Hoje vou falar um pouco do filme Nosso Lar, que tive o prazer e a emocao de assistir em Brasilia com meus pais. Vou tentar resumir a historia porque nao da para colocar 46 anos de casamento, num post, mas tentarei ser breve e relatar a minha experiencia. Meus pais se casaram em 1963, na epoca minha mae com 17 anos, e meu meu pai com 27, e tiveram uma vida normal, como todo casamento, brigas, filhos, trabalho, dedicacao, ausencia, e etc. Minha mae decidiu cuidar da casa e dos filhos, meu pai trabalhava o dia todo, entao, o que sou hoje devo a minha mae, a meu pai, devo respeito, carinho e muitas outras coisas.... Mas a vida de casado nao eh sempre um mar de rosas, todos passam por fases ruins, periodos dificeis, transtornos, frustracoes e etc, e nao foi diferente na vida a dois dos meus pais.
Este ano ele teve um problema serio, e foi parar no hospital, ficou internado 10 dias, teve que operar e pelo relato do medico, quase morreu. Nesse meio tempo, minha mae largou tudo e ficou com ele no hospital, e tenho que agradecer a situacao financeira deles, papai foi operado de emergencia e ficou internado no Santa Luzia, um Hospital maravilhoso em Brasilia, que por sinal eh de um grande amigo da nossa familia. Enfim, ele teve um tratamento perfeito durante os 10 dias, medicos e enfermeiras estavam sempre no quarto com ele, pois meu pai precisou ficar em observacao. Papai sempre foi um homem calado, adorava contar piadas, rir, ouvir musicas sertanejas, mas gostava de fazer isso apenas com a familia por perto, nunca foi de muitas amizades, acho que eh a timidez. Apesar de ter sido Tabeliao de Cartorio em Brasilia, ele sempre foi um homem reservado e afastado dos holofotes.
Depois de sair do hospital, meu pai, que ja era um homem calado, se fechou mais ainda, entrou num processo de depressao e de punicao muito grande. E eu aqui, preocupada e agoniada por nao estar por perto e ajudar. Ligava todos os dias, e tentava conversar, explicar, ajudar, mas nao via resultados, e foi quando decidi ir a Brasilia e ver de perto o que estava acontecendo, e o que eu poderia fazer. Cheguei em Brasilia, e me deparei com um homem triste e sem expressao de vida, e pensa que isso me doeu muito, e fora que no aeroporto ele nao demonstrou emocao quando me viu - eu sempre fui a filhinha queridinha dele, sempre fui paparicada por ele, e naquele momento, percebi o quanto a depressao muda e acaba com uma familia.
Fui do aeroporto a casa dos meus pais conversando dentro do carro, e meu pai nao abriu a boca para falar nada, era como se eu nao estivesse ali.... e isso me doeu demais, fora que minha mae estava esgotada. Peguei minha familia cansada, triste e sem vida, e fiquei pensando na epoca em que a alegria e as risadas faziam parte da casa dos meus pais.
Fiquei pedindo para ir assistir o filme Nosso Lar durante 03 dias seguidos, e sempre a mesma resposta, depois, depois, depois.... Na segunda-feira, dia 20 de setembro, eu vi os horarios do filme, e disse: Nos vamos assistir o filme hoje a tarde. E la fomos nos, meu pai calado, minha mae cansada e eu tagarela, gente como arrumo assunto.... Para quem ja tinha lido o livro, sabe a mensagem, sabe o conteudo, sabe a passagem da historia, mas para quem nao acredita em nada (como meu pai), o filme seria um martirio...
Sentamos e o filme comecou, e eu, ja esperando todas as cenas, me emocionava.... Fiquei pensando na qualidade do filme nacional e no conteudo do filme. Eu me emocionei do comeco ao fim, a cada cena eu lembrava do livro e pensava, sera que meu pai esta entendendo o filme, sera que ele esta conseguindo refletir sobre a mensagem do filme? Em determinado momento eu comecei a chorar, era como se eu quisesse passar minhas emocoes e minha vontade de viver para meu pai, queria que ele entendesse que nao adianta se punir por algo que foi feito la atras, ele deveria se perdoar e viver daqui pra frente....
O filme passa para nos o amor, e que temos que amar de corpo inteiro, e que nosso amor tem que transceder, transbordar e ajudar quem nao consegue viver isso, e era assim que estava pensando, queria ajudar meu pai. O filme acabou, e saimos do cinema, meu pai calado estava, calado continuou.... minha mae ainda puxou assunto sobre alguns pontos do filme, mas meu pai se manteve calado, e num determinado momento dentro do carro ele disse: Minha filha, esse filme eh Espirita ne??? eu respondi que era um filme cristao e comecei a falar. Ele pediu para eu me calar e perguntou novamente: Minha filha, esse filme eh Espirita ne??? Ok, respondi a ele... Eh um filme Espirita, mas a mensagem do filme eh amor, eh doacao... e ele me pediu para ficar calada.
Chegamos na casa dos meus pais e me senti frustrada, me senti culpada de nao ter conseguido nada, e ter feito meu pai ficar com raiva, raiva nao, mas com aquele sentimento de que a mensagem do filme nao foi suficiente. Hoje vejo que a depressao eh assim, ela invade a vida da pessoa, toma conta de todos os sentimentos, os melhores, e a pessoa nao desconfia de nada, e comeca a desconfiar de tudo, comeca a ser agressivo.
E de volta aos Estados Unidos, comecei a me punir, achava que deveria ter feito mais, mas conversei com amigos psicologos e percebi que a unica coisa que posso dar para meu pai eh amor, mesmo que distante. E um outro ponto que achei interessante foi quando meu pai me perguntou sobre o que os Espiritas acreditam, e no momento me veio um silencio, acho que foi um alerta para eu procurar as palavras certas e nao assusta-lo. Disse a ele que o Espirita acredita no amor, acredita que existe uma forca maior que invade o nosso coracao e nos transforma, que o Espirita acredita no amor que nao se pede, que nos Espiritas estamos procurando nos tornar mais espiritualizados, mais eticos e mais sensiveis as causas humanas. Tentei falar um pouco da Doutrina, voltada para o filme e sobre o livro Nosso Lar, disse que acreditamos em reencarnacao, e que estamos sempre buscando a melhoria intima. Falei do Umbral, falei da depressao e de como ela compromete o organismo todo, compromete a capacidade de pensar, de fazer as coisas, de comer, de dormir, de sentir e de viver, falei sobre a reencarnacao, a vida apos a morte, o plano espiritual, a interferencia espiritual obsessora, e de como podemos vencer isso.
Soh que nesse momento, ele se afastava e simplesmente nao reagia a nada do que eu falava e eu percebi que preciso rezar mais, pedi mais, e tentar fazer com que ele venca o passado e se liberte dessa culpa que ele carrega.
E no meu intimo, acredito que o filme tocou o coracao dele, e apesar da forca da depressao, acho que a consciencia e a mensagem belissima do filme vai fazer ele se levantar, e refletir sobre o verdadeiro significado da VIDA.
E fico por aqui, amando meu pai, e desejando do fundo do coracao que ele se recupere e viva feliz!
Beijos enormes!!
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